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A migração aos olhos de diferentes gerações


Portuguesa a viver em Amesterdão, filha de pais portugueses, nascida na Suíça.


Claramente, a migração corre-me nas veias. O desejo de sair, de descobrir, de trabalhar e de me envolver com novas culturas está enraizada na forma como me relaciono comigo e com os outros.


Existem muitas e diferentes razões que levam alguém a emigrar. E esta é a minha questão: será que os motivos que me levaram a emigrar foram os mesmos que levaram os meus pais a sair do país deles?


Antes de mais nada, é importante perceber que os movimentos migratórios são uma das características mais proeminentes das sociedades contemporâneas. A globalização tem contribuído para intensificar estes movimentos. E, obviamente, estes movimentos atravessaram diferentes etapas ao longo do século XX e XXI.


O que é que isto significa? Significa que o motivo pelo qual a geração dos meus pais decidiu emigrar é o reflexo político, social, cultural e psicológico do que eles estavam a viver no momento. E, claramente, não estamos a viver a mesma realidade socio-político-económica.


Para contextualizar:


A geração Baby Boomer, que representa as pessoas nascidas entre 1946 e 1964, no pós-Segunda Grande Guerra Mundial, tinham como principal valor o trabalho árduo. Então, quando decidiam emigrar, muitas vezes era com o objetivo de procurar melhorar o seu poder económico, o seu estilo de vida e portanto, remar rumo a um mundo novo cheio de oportunidades. Esta geração procura dentro do processo migratório, a criação de estabilidade e segurança.


Para aqueles nascidos entre 1965 e 1980, a Geração X, os valores e os ideais eram assentes na descoberta, na exploração do mundo, do outro e da nossa própria mente. Esta geração foi altamente influenciada por fases ideológicas marcantes que os levaram a desafiar o mundo. Os processos migratórios da Geração X, tinham por base o empreendedorismo, a liberdade de expressão, romper os ideais conservadores do passado.


A geração Millennial (dos nascidos entre 1981 e 1996) é a geração da “chegada do futuro” e o domínio da tecnologia. Esta geração é vista como mais criativa, mais preocupada com as causas sociais e mais disposta a quebrar padrões. E o motivo pelo qual emigram é, claramente, diferente das gerações anteriores: dão maior importância à educação, aprendem muito rápido, têm uma capacidade de adaptação muito grande e desejam um crescimento profissional e financeiro.


O que é que isto nos diz? Sim, as nossas gerações são diferentes e isso leva a que vejamos os processos migratórios de um modo diferente também.


Para os meus pais, e para a sua geração em geral, o motivo que os levava a sair do seu país de origem residia no facto de sentirem que precisavam de mais poder económico, de maiores oportunidades para atingirem a estabilidade que tanto queriam: casar, filhos, ter uma casa e, até quem sabe, regressar à sua terra natal. Tudo isto antes dos trinta anos. Saem com a ideia e o sonho de voltar.


Para nós, os Millennial, saímos porque sentimos que vivemos num mundo altamente globalizado, porque temos grandes aspirações e sonhos, porque sentimos que não estamos a ter acesso a tantas oportunidades e queremos mais. Mais, mais, mais. Queremos experienciar, queremos conhecer e ao mesmo tempo, queremos poder e reconhecimento. Não estamos tão focados nos ideais de casamento e construção de família. Estamos ainda a tentar perceber o que queremos na nossa vida. Crescemos num mundo altamente instável e com alterações profundas no modo como vivemos e, como tal, a abertura e a adaptação são competências importantes a desenvolver.


Para além disso, não posso deixar de referir que as novas tecnologias abriram-nos muitas portas: foi-nos possível observar que as nossas competências e conhecimento podiam ser mais apreciados e valorizados noutro país. Então porque não? A corrida às oportunidades é tentadora.


Então, se por um lado o que nos motiva a sair é muito diferente, por outro acabamos por ser todos iguais - à procura do sonho, seja ele qual for.

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